Vruuuuuuum!

Solidário e em homenagem à paixão de meu amigo Gustavo Sirelli pela Fómula 1, publico este post com o registro que fiz da sobra daquilo que pode ser chamado um dos grandes momentos do esporte automobilístico. O local é o museu da BMW em Munique, Alemanha. Até a quem não se interessa por carros recomendo a visita, o museu é cativante e a exposição muito bem bolada.

O carro...

...e o nome do hômi...

Spaghetti & calamari

Neste dia fui à colônia Z13, no posto 6, em Copacabana. Trouxe peixe fresco e lula. O peixe guardei. As lulas viraram isso que está aí embaixo. Com uma câmera na mão e uma idéia no estômago, preparei este jantar para receber minha irmã, cunhado e sobrinho.

Se achar que o slide show está rápido demais, passe o mouse sobre ele. Aparecerão botões de controle, e você poderá parar e avançar manualmente as fotos.

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Short tales about a distant island (4-A)

O penúltimo episódio… parte A.

Como assim, parte A?

É, o post ficaria imeeeeenso… Se as sagas Crepúsculo e Harry Potter puderam dividir um capítulo em dois filmes, por que eu não poderia?

* * * * * * * *

4 – A. Os colecionadores…

Junto aos restos de uma das 7 maravilhas do mundo antigo: a tumba de Mausolus (acredita-se que seja a figura atrás de mim, à direita). O seu nome deu origem ao termo Mausoléu. Erguido aproximadamente em 350 A.C. na cidade de Halicarnassus, hoje Bodrum, Turquia.

Fazer turismo pode resultar em dois tipos de experiência: diversão e aprendizado. Até aqui, abordei os dois aspectos no lado mais ligado à vida cotidiana de Londres. Mas há outro tipo de atração na qual os ingleses, principalmente devido à influência da era Vitoriana e um certo senso de preservação, se tornaram mestres: museus e coleções.

Antes de prosseguir, uma pequena digressão:

Os ingleses fizeram muita besteira também, ao longo de sua história, como qualquer país ou qualquer pessoa sempre fez e sempre fará. Ninguém está imune a esta possibilidade. Mas o calejamento do tempo e as escolhas que são feitas a partir da percepção destes erros moldam o caminho a ser trilhado em direção ao futuro. Para o bem e para o mal, como vocês lerão mais adiante.

Na minha opinião, a percepção e o julgamento sobre os atores, os atos e os fatos que moldaram um dado momento histórico dependem de diversas variáveis inerentes ao contexto sócio-cultural da época em que se dá o fato e/ou a análise do mesmo, ou seja, as inferências podem ser bem diferentes para aqueles que viveram o tal momento e para os que em outro instante o analisam.

Meu olhar sobre a História, reconhecido e respeitado o limite da minha humilde e eterna ignorância, tenta primeiro observar e absorver o “conjunto da obra”, digamos assim, se aquilo foi ou não positivo – do meu ponto de vista – para depois descer até os detalhes que compuseram o todo e, onde puder alcançá-los, buscar ali as respostas que confirmem ou neguem minhas impressões. Há ainda certos valores que considero universais contra os quais costumo confrontar as minhas percepções, mas isto já é assunto para outras conversas…

Isto tudo foi escrito para que o leitor, antes de me acusar de ignorar, a partir daqui, que os ingleses “saquearam, exploraram, subjugaram etc etc” e mais toda aquela retórica politicamente correta de professor secundarista marxista, atente para o fato de que nada disso me impede de reconhecer que os caras fizeram uma nação formidável, a despeito de todos os erros no percurso. Nação que infelizmente parece caminhar para a destruição “lenta, gradual e segura”, por submissão. Que Alá os proteja…(veja aqui e aqui)

Se eu pensasse de outra forma, talvez devesse achar a Alemanha um país desprezível e seus habitantes seres abjetos por conta das lambanças decorrentes de um delírio batizado de Nacional Socialismo, comandado por Hitler décadas atrás. Compreendo porque os alemães se deixaram levar por tamanha sandice à época, assim como compreendo porque vários países e pessoas – inclusive vários ingleses graúdos e um certo Getúlio Vargas – chegaram a flertar com o regime.

Crânio decorado Maia, para lembrar o esporte predileto do ser humano: matar outros seres humanos, em nome de um deus, de um governo, de uma causa...

Saúdo todos aqueles que, desde lá até os dias de hoje, enxergaram a merda que era aquilo tudo e dispuseram-se ao combate, colocando aquela loucura devidamente no lixo da História, sem no entanto permitir que o mundo jamais esqueça o que aconteceu.

Tomara que eu ainda esteja vivo para poder comemorar o mesmo em relação à bosta idealizada por Karl Marx, que desde 1917 já matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo….

– Fim da digressão.

Visitando estas atrações da city, um conceito único parece permear todos os palácios e museus e eu o descreveria numa frase mais ou menos assim: “O ministério da saúde (mental) adverte: colecionar e conservar enriquece a cultura”.

De fato, a maneira anglo-saxônica de olhar o passado e fazer negócios é o solo fértil que permitiu o florescimento da idéia onde história, arte e cultura devem ser bens acessíveis a todos e um valor universal. A História prova que isto faz toda a diferença. Olhem o conjunto das nações que lideram o IDH e procurem se informar sobre o alcance da educação e o respeito à História nesses lugares, de uma forma geral. Já escrevi um pouco sobre isso.

Rainha Vitória - 1819 - 1901

Durante o período Vitoriano o “Império onde o sol nunca se punha” experimentou seu auge. Felizmente, ficou intacto o legado dos exploradores (por favor, aqui no sentido científico, não “marxista”, da palavra), cientistas e aventureiros, graças ao apoio – e já em certo grau, cobrança – de um povo de visão e seus expoentes, fossem eles estudiosos, empresários, financistas, políticos ou monarcas, como exemplificarei mais adiante.

Em minha curta estadia visitei o que deu nesse campo: O British Museum, o Victoria and Albert Museum, a National Gallery, o museu de História Natural, a Igreja dos Templários, a Torre de Londres e o palácio de Hampton Court. Neste capítulo falo um pouco dos que mais me impressionaram.

Durante a edição destes posts, várias vezes senti um arrepio, ao lembrar que nas visitas fui tomado por diversas sensações, desde a simples contemplação despretensiosa até emoção pura. Calejados que são nesse negócio de catalogar e mostrar coisas, os caras criam atmosferas, novas dimensões e fazem o que querem e o que talvez nem imaginem com as emoções do visitante. É muito fácil embarcar nessas “viagens” e impossível sair delas incólume. E o humilde escriba aqui ainda se permitiu enxergar algumas outras “cositas” lá e acolá…

Agora, vou deixar que as imagens me ajudem a contar o resto da história.

O primeiro lugar que fomos visitar, até porque era do outro lado da rua, foi o British Museum. A imponência da fachada era o prenúncio de que a visita poderia ser longa, mas só entrando deu para sentir o drama!

A entrada do British Museum

The British Museum: A primeira p*rrada na cara

 

Essa é mais ou menos a sensação que se tem ao entrar no B.M. pela primeira vez...

De acordo com o site oficial, Hans Sloane (1660 -1753) foi um médico, naturalista e colecionador que ao longo de sua vida amealhou uma coleção de 71.000 objetos, desde moedas até amostras de animais e plantas. Desejava manter a coleção intacta após a sua morte, então entregou-a ao Rei George II e para a nação, como contrapartida a um pagamento de vinte mil libras para seus herdeiros.

O presente foi aceito e o parlamento criou o museu em 7 de junho de 1753.

Ao longo do tempo, o museu destinou parte de sua coleção para dar origem a outros – como o Natural History – e focou seu acervo em História, essa com “H” maiúsculo mesmo!

Logo ao entrar, vê-se o pátio central – The Queen Elisabeth II Great Court -, que é coberto por uma espécie de redoma moderna translúcida (diz ainda o site oficial que é o maior espaço público coberto na Europa, com dois acres), muito iluminado e bastante convidativo para um descanso – já ao cruzar o portão você percebe que vai precisar de um em algum momento -, ou um lanchinho, ou uma leitura, ou só sentar e ficar olhando…

Olha o pé direito!

Como na cidade em geral, você se sente bem à vontade em qualquer atração que vá visitar, mas um aspecto é bem diferente do aconchego das ruas entre os vários edifícios de tijolinhos e parques: o que a cidade ainda guarda de bucólico fora dos museus vira over, mega e quase opressor uma vez dentro deles. É tudo uma questão de escala – Veja o Totem da foto, exposto no pátio central…

No British, uma visita completa só será possível ao cabo de algumas semanas.Então é melhor relaxar, ver e curtir o que puder. Depois, torcer e fazer planos para voltar de novo e de novo…

A visita é puro deleite visual, você tem a impressão de que os livros de história da escola estão pulando em cima de você. Sensação como esta, só no Louvre, em Paris, ou diante do Coliseu de Roma.

Fazendo novos amigos! Um Moai da Ilha de Páscoa.

Não há foto que descreva o que é ficar frente a frente com a História do mundo, imaginar as figuras históricas que podem ter pisado em tais lugares, usado os objetos expostos. O que faziam? O que diziam? Para quem gosta, é certo que em algum momento um aperto no coração fará saltar uma lágrima em homenagem ao riquíssimo legado deixado pelo ser humano nos quatro cantos do mundo.

A pedra de Roseta, um decreto trilingüe editado em Memphis, Egito, em 196 A.C. pelo rei Ptolemeu V, que permitiu decifrar os Hieroglifos egípcios. Como bem lembrou a Renata, é a primeira tecla SAP de que se tem notícia!

A experiência de uma visita assim também aguça a nossa curiosidade. Você começa a querer saber mais, ver mais. E descobre coisas curiosas, como quando estava na seção dedicada ao Parthenon grego.

Tava lá bonitinho, já convertido em mesquita pelo Império Turco Otomano no século XV, quando este inventou fazer dele também um paiol. Um belo dia, em 26 setembro de 1687, durante um conflito com os Venezianos, o paiol BUM! E era uma vez uma bela edificação. Então Thomas Bruce, conde de Elgin, em 1806, com a permi$$ão dos Turcos (!!!), só teve o trabalho de levar alguns “cacos” para a Inglaterra. Hoje eles estão expostos no British Museum como os Mármores de Elgin e os gregos reclamam a volta das peças para a Grécia. Briga boa… A história dos mármores de Elgin é para lá de controversa e reúne uma sucessão de cagadas, até da equipe de manutenção do Museu Britânico!

Uma das 92 Métopas que decoravam o entorno do Parthenon. História em quadrinhos...

Brigas à parte, em contraste com a história da aquisição dos mármores por Sir Elgin, a sala dedicada a abrigar os restos do Parthenon tem uma origem interessante:

"Estas galerias projetadas para abrigar as esculturas do Parthenon foram doadas por Lord Duveen de Millbank - 1939"

Esse é um daqueles “pequenos” detalhes que imediatamente me fizeram lembrar lá mesmo, bem na hora em que li as palavras na parede, de um certo “causo” que ilustra as “pequenas” diferenças entre a estreiteza e a amplitude da visão de uns e de outros. Aqui e lá, respectivamente.

Assim, encerro este post com um link para o que se passou recentemente na faculdade de direito da USP. Leia e compare.

Até a próxima!


(Not so) Short tales about a distant island (3)

3. Zanzando na City. Chegamos à metade da saga!

Este looongo texto e o próximo serão dedicados à parte turística propriamente dita da viagem.

Nove dias foi pouco tempo para conhecer uma cidade tão complexa e interessante, mas deu para ter uma boa idéia daquilo que, na média, poderíamos chamar de organização e civilidade (até considerando as enormes cag*das que os ingleses já fizeram ao longo da história e ainda fazem de vez em quando, das quais talvez eu fale no futuro).

Lembro, mais uma vez, que falo da percepção geral que EU tive. Claro que há exceções, sempre e para tudo. Mas não há como não fazer comparações. O tempo todo.

Essa p*rra tem regulamento!

A frase, de um amigo velejador, não poderia ser mais apropriada. Há certos regramentos e convenções para o bom convívio social bem cristalizados há muitos anos por lá, dá uma pontinha de inveja perceber certas coisas, como por exemplo, a forma educada com a qual as pessoas em geral falam com você – até para te dizer que infelizmente não, não pode. Os Londrinos – ingleses ou não – foram o tempo todo muito gentis.

Há mais detalhes: os trocos no caixa são dados até os mínimos centavos exatos – você já ouviu falar da maldição das moedas inglesas? Passe um dia fazendo compras e sinta, literalmente, o peso da maldição. As coisas parecem ser feitas da maneira como se espera que sejam feitas, as autoridades costumam prestar contas do que fazem e pedem desculpas por inconvenientes causados, ou pelo menos tentam dar uma satisfação. A palavra que melhor define a sensação geral que eu tive em Londres é Respeito. Desde que cada um fique “no seu quadrado”, que fique bem claro.

Indo e vindo

Caminhar é, como disse antes, a melhor maneira de curtir a cidade, mas ela dá muitas alternativas para você se deslocar. Por exemplo, alugando uma bicicleta:

logo ao chegar no albergue, na Montague Street, percebi um grande estacionamento de bikes para aluguel, administrado pela agência Transport for London – http://www.tfl.co.uk, vale muito a pena visitar o site. Estava lotado. Pensei logo: ih, ninguém usa, deve ser igual ao do Rio, só para enfeitar.

Ledo engano! Quando deu cinco da tarde, as bikes sumiram. Ocorre que o hostel fica numa região de trabalho, então as pessoas chegam com as bikes pela manhã e no fim do expediente as usam para ir para casa. No site da TfL, pode-se ver num mapa a quantidade absurda de pontos de estacionamento de bicicletas. E a campanha educativa para a convivência trânsitos x bikes é um show à parte. Incluindo os dias de “troca de posição”, onde os ciclistas são convidados a entrar numa cabine de caminhão e entender na prática porque não devem se posicionar nos “pontos cegos”. Está tudo no site, é só navegar.

As famosas travessias de pedestre com os postes de luz amarela piscante também chamaram minha atenção. Nelas, basta ameaçar por o pé na zebra e os veículos param imediatamente para você atravessar. Curiosamente, os ciclistas furam esta convenção com muita freqüência (olha as exceções aí), e como os ciclistas trafegam em velocidade relativamente alta, é bom tomar cuidado.

E é claro que tem sempre um babaca que fica pulando da calçada para a zebra para fazer os carros pararem, dar uma rebolada, voltar e ficar rindo. Eu vi e não era inglês.

Um aparte sobre isso: quando fui à França e Itália, há mais de dez anos, e agora em Londres, pude constatar em várias oportunidades que existe um certo país Latino Americano que é campeão no quesito produzir turistas que falam alto, andam na rua ao invés da calçada a ponto de ter a atenção chamada por policiais, tentam burlar sistemas de bilhetagem eletrônica, tirar alguma vantagem para se vangloriarem da sua “esperteza”  e são muito espaçosos, com a firme convicção de que, estando na casa dos outros, os outros que se adaptem. Totalmente “sem noção” e um vexame. Depois as pessoas ficam reclamando por aí dos europeus etc e tal…

Pise na grama

Os parques são parte da cultura londrina.

Uma vista do Serpentine, no Hyde Park.

Os parques são muitos, bem cuidados e bem usados. É só rolar um mormacinho mais quente (sol? o que é isso?) e a galera já tá estirada na grama, jogando bola, fazendo piquenique.

Deu até para lembrar de quando ainda era um programa seguro e despretensioso passar a tarde dividindo comida com as formigas no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro, brincar na grama até sentir coceira e depois visitar o Museu da Cidade. Aí tocava uma sirene no fim da tarde e todo mundo tinha que sair. Até a última vez que tive notícias, o Parque da Cidade, agora parcialmente invadido e ocupado, não podia mais fechar os portões, para não prejudicar o trânsito de seus novos moradores.

Voltando à ilha, a noção de coisa pública é respeitosamente bem difundida. As pessoas usam mesmo e NÃO fazem nenhum esforço para preservar. Porque não precisam: é que o respeito, mais uma vez, flui naturalmente.

Tudo misturado

Tem gente que reclama muito quando uma construção moderna é erguida em algum sítio histórico ou em meio a coisas mais tradicionais. Se você é um desses, vai achar Londres um absurdo. E muitos ingleses vão balançar a cabeça de acordo.

O London Eye, em contraste com o prédio histórico ao lado, que abriga o Aquarium

Mas eu acho que o problema não é exatamente o convívio entre antigo e moderno. Basta não destruir um para fazer o outro. Mesmo porque todas as cidades históricas do mundo, seus palácios e locais importantes contam histórias diferentes por sobreposição de estilos e épocas.

Em geral as coisas históricas importantes se perdem por uma guerra, uma catástrofe, por oferecer riscos ou até por uma enorme burrada mesmo, como o Parthenon grego, um exemplo muito triste do qual falarei no próximo post.

A diferença entre lá e cá que salta aos olhos neste caso, para mim, pode ser ilustrada por um exemplo, hmmm… cinematográfico. Se você for a uma cidade antiga qualquer como Roma ou Londres e precisar de locações para rodar seu filme histórico, vai achar, especialmente se for algo relacionado a algum evento importante. Em geral, o lugar está lá ainda. Com algum recurso computacional, dá para remover os elementos modernos e ficar satisfeito com o resultado.

Agora, tente fazer um filme sobre a história do Rio com o morro do Castelo e o palácio Monroe… Perceberam a diferença?

Vista a partir do London Eye

A silhueta da cidade é cheia de contrastes. Como Londres é um local onde a geografia é relativamente plana e a maioria das construções têm poucos andares, tudo aquilo que for de arquitetura mais arrojada, extravagante e um pouco maior logo vira ponto de referência na paisagem. De bom e de mau gosto. Mas está tudo lá e isso é que importa.

Alguns prédios modernos com o "pepino erótico", como os londrinos o chamam, ao fundo.

Falando em modernidades, antes de viajar fiz pouco caso do London Eye. Mas uma volta ou 30 minutos depois de entrar nele eu senti que estava, com trocadilho, redondamente enganado. O passeio é lindo e é uma obra de engenharia magnífica.

Preservando um pouco mais do que a arquitetura

Tem coisas sobre determinados locais ou culturas que a gente só entende vendo. A troca da guarda da rainha no palácio de Buckingham é uma pequena aula de british way of live and behaving.

Para trocar os dois guardinhas que ficam de cada lado da porta (e talvez alguns outros que eu não tenha percebido), um destacamento a cavalo e duas divisões da guarda, com direito a banda marcial e tudo atraem a atenção de uma multidão considerável.

Todo santo dia, nos meses quentes e dia sim, dia não nos demais, acontece um evento tão absurdamente exagerado quanto compreensivelmente necessário.

Vendo aquilo tudo, algumas fichas caem. A instituição real e tudo o que gravita em torno dela criou, ao longo dos séculos, uma identidade forte para e com o país. E daí que a rainha reina, mas não governa? Há um papel bem definido a ser representado naquilo tudo, que é hoje exatamente o de repositório dos valores e significância do ser britânico. Transcendendo governos e partidos. Havendo alguma dúvida, o inglês pode voltar os olhos para a rainha e lembrar-se o que significa essa coisa toda etc.

Ritualizar atos que poderiam ser simples e reafirmar certos paradigmas tornando-os tradição é uma maneira bem eficiente de cultivar e preservar valores desenvolvidos em séculos e séculos de erros e acertos, desde que se aprenda com eles, registre-se. Dá identidade a um país e seus habitantes, cria vínculos. Cultura nasce e cresce dessas coisas, não de ministérios.

E há ainda os que não gostam e questionam a necessidade da própria existência da casa real. Eu temo que, se o desejo progressista de acabar com esta tradição for levado a termo, terá início o fim de uma grande nação. Ponto.

Quando Londres foi bombardeada durante a II Guerra, a família real permaneceu em Londres. Há uma tradição entre os membros da família real de servir às forças armadas e até ir ao front.

Abre parêntesis – Eu não consigo imaginar o molusco na iminência de um conflito armado, por exemplo, pegando em armas para defender até os que dele falam mal e a liberdade dos mesmos para ter esta opinião. Mesmo porque quem se meteu em luta armada no Brasil foram alguns dos seus outros “cumpanheiros” com propósitos, convenhamos, muuuuito distantes daquilo que eu entendo por liberdade. Mas bem convenientes para eles. E sabemos que o apedeuta, como qualquer oportunista, pode ser qualquer coisa, menos corajoso, e exemplo é tudo, cada um que se vire para aprender com os modelos de que dispõe… – Fecha parêntesis.

John Cleese, the Ministry of Silly Walks.

Há o outro lado da cerimônia, não menos importante e icônico: quando ouvi os primeiros acordes da banda militar e a vi chegando, nem pude conter o riso, pois imediatamente lembrei do Michael Palin vestido de velhinho, numa situação qualquer bem absurda proferindo o famoso bordão “It’s…” – e depois o narrador – “The Monty Python Flying Circus!” é claro, com uma marchinha daquelas tocando no fundo.

Todo o gestual dos guardinhas vermelhos e seus capacetes peludos enterrados até o queixo, seja marchando até a parede e voltando para aliviar o corpo da imobilidade, seja trocando o fuzil de lado ou batendo o pé no chão para retomar a postura de guarda é puro John Cleese. Os gritos do guarda de trânsito mandando o grupo de brasileiros (quem mais?) sair da rua e voltar para a calçada, fazendo caretas, abrindo bem a boca e arregalando os olhos, sem no entanto perder a pose, também. Dali em diante, assisti a toda a troca da guarda com cara de smiley 🙂

Fish ‘n Chips and a pint of beer

Os londrinos têm ótimos motivos para ter um sistema de transportes tão bom…

A gastronomia londrina é como a de qualquer cidade cosmopolita – global. A única chance que tive de travar contato com a comida típica inglesa foi nos pubs. E foi bem legal.

A fachada do pub The Silver Cross, na av. White Hall.

Primeiro, pelos zilhões de tipos de cerveja para escolher, de todas as cores, temperaturas e gostos, bem servidas – um pint equivale a 660 ml. Eu gosto de cerveja preta e fui direto na Guiness, mas a melhor das que bebi era italiana e loura! Peroni Nastro Azzuro. Mas faltou experimentar um montão de outras marcas, nunca essa opinião será definitiva. Um brinde a isso e another pint of beer, please!

Fish and Chips!!!

Já falei do prato principal, vamos aos acompanhamentos: tinha as lingüiças irlandesas e o tradicionalíssimo peixe frito com batatas (Receita aqui). Todos deliciosos. Os temperos – mostarda Colman’s, o molho HP e o vinagre maltado eram ótimos também. Os ingleses sabem comer mal muito bem!!! E o “molho inglês”, o tal molho tipo worcestershire? Só vi em um pub, escondido num canto do balcão, meio que pedindo desculpas por existir. Quase uma lenda urbana…

Os pubs têm nomes exóticos. Este aqui tinha tudo a ver com o clima típico da cidade…

Nos pubs, você paga na hora de fazer o pedido no balcão. Deve ser a forma que eles encontraram para evitar calotes e problemas com os beberrões. E nessa de regrinhas prá lá e hábitos bem cumpridos prá cá, a gente vê até situações curiosas. Em todos os países onde tudo tem que funcionar como um relógio, quando alguma coisa foge o mínimo que seja do roteiro, deixa os “locais” perdidinhos.

Esse foi reconstruído após o incêndio de 1667. Long life to the Beer!

Em um dos pubs, eu e os outros três do grupo fizemos pedidos muito parecidos. Solicitei então ao atendente que dividisse o valor total no meu cartão e no do Rubem, para nós a coisa mas natural do mundo, mas… TAM! (barulho de erro do windows) Foi o que bastou para o sujeito entrar no modo “tela azul bem educada”, ele não conseguia admitir que a conta seria divida em valores iguais:

– We will divide the amount in these two cards.

– Sorry, but what are you paying for, please?

– Please, divide it. One half for each card.

– Sir, you must tell me which items are yours, so I can debit on your card…

Depois de insistir um pouco, desisti da explicação e colocamos duas cervejas e um fish ‘n chips para cada cartão. Deu na mesma, claro, mas pelo menos assim o cara (ou o sistema, sei lá) aceitou… Não há o mínimo “jeitinho”, nem o instintivo. Há o jeito deles.

Para mim, tudo bem. Prefiro acreditar que o sistema de cobrança deles amarra pagamentos com estoque, uma maneira de evitar sonegação, controlar a venda de bebidas, ou é só frescura mesmo, quem sabe?

Mas quem aí já não ouviu algum amigo viajado gabar-se de que nós somos muito mais “ixpertos” do que os falantes do idioma inglês, especialmente os americanos. Ô… A vida média que se leva em cada país que o diga! Melhor ouvir calado.

Um dos restaurantes da rede Pizza Express, em um belo prédio da era Vitoriana onde funcionava uma fábrica de laticínios.

E quem me dera que os problemas de atendimento e serviços aqui no Rio fossem só desta ordem também…

Marcos (à esq), o garçom turco-hispânico e Giuliano, dono do restaurante “il Castelletto”, end. 17 Bury Place, próximo ao British Museum. Ótima comida, bom preço, muito bate-papo e um Zabaglione sensacional de sobremesa!

Cheap London

Desde que me entendo por gente, toda a vez que alguém dizia que ia viajar para a Inglaterra, outros diziam: – Ih, se prepara porque lá é tudo muito caro!

É e não é…

Um albergue pode ser uma ótima opção para os mais descolados.

Uma garrafinha de água mineral a quase R$ 6,00 pode não ser a visão mais reconfortante quando se está com sede, mas por outro lado é um lugar onde todo mundo bebe água da torneira. Porque é tratada para isso. Veja aqui e aqui. E aqui um que discorda totalmente.

Ou uma viajem de metrô custar algo como R$ 10 pode arrepiar os cabelos, mas usando o cartão da maneira certa, você pode fazer quantas viagens quiser por dia por um valor fixo. E os descontos aumentam conforme aumenta o número de viagens/dias  comprados. Aqui no Rio, já foi o tempo…

Para quem vai viajar é bom ter uma coisa em mente: depois que planejou os gastos e trocou o dinheiro, não fique fazendo contas. Só compensa se você vai à Argentina. Aliás, Buenos Aires virou um algo maltratado e charmoso episódio, agora que conheço o longa metragem que deu origem à série.

Outra: é preciso lembrar que os moradores de lá ganham dinheiro de lá. Então duas libras para quem ganha mil pesa o mesmo que dois reais para quem ganha mil. A diferença é o que se pode fazer com dois reais aqui e com duas libras por lá. De uma forma geral, posso afirmar que a vida no Rio é muito cara. O brasileiro ganha proporcionalmente menos e as coisas em geral custam mais caro para nós por aqui. Fui no supermercado e conferi.

Por exemplo, o farto Fish ‘n Chips que dá com folga para duas pessoas, um copo de ótima cerveja para mim e um drink para a Renata no pub Silver Cross custou ao todo £14.95 – ou cerca de R$ 22,00 para cada um. Comparando com uma saída à noite num bar da moda que seja equivalente em visual, qualidade, atendimento etc… É caro?

O custo de uma viagem depende realmente daquilo que o viajante julga importante. Decidimos ficar num albergue, muito bem localizado – pertinho do British Museum. Um quarto para nós quatro (duas beliches). O banheiro fica do lado de fora mas isto não chega a ser um problema. Você está de passagem para ver a cidade, não para ficar no hotel. Apesar do visual despojado e um tanto antiguinho, o albergue e os banheiros eram bem limpos – isso sim é importante -, o café da manhã abundante e a cama confortável. Ou eu voltava dos passeios cansado demais para achar a cama ruim 🙂

Resultado: para passar nove dias, cada um gastou cerca de US$ 250 no total, ou pouco menos e R$ 50 por pessoa/dia, com um dólar de R$1,70. É caro? Sobrou dinheiro para passear mais e comer bem – ah, isso eu acho muuuito importante! Pode ser até culpa da crise mundial, mas é bom a gente ser honesto com nossas prioridades quando fazemos planos de viagem, como tudo na vida. Evita surpresas e decepções. Eu curti a viagem e faria (farei!) tudo de novo. Quando ficar velho, talvez mude de opinião – ou prioridades.

Enfim, economizar não é gastar pouco, é poder ter o que se quer ou precisa – da melhor qualidade, de preferência – pelo menor preço possível, algo muito diferente, né?

Rua Teresa + Feira Hippie + Cobal do Humaitá + Brechó =…

Os mercados de rua são bem interessantes, com destaque especial para Camdem Town, que é bem mais do que a conta acima.

Eclusas no braço de rio que corta Camdem Town

Se você resistir ao impulso de fazer uma compra na primeira loja ou barraca e der uma volta antes, vai achar um monte de coisas legais por preços bem em conta. Difícil é não ficar com vontade de comprar o mercado todo! Uma ex-coleguinha de baia dos meus tempos de serviço em Mordor, useira e vezeira em voltar do almoço com uma sacolinha – “Gentem, olha esse vestidinho que eu achei numa promoção, não é lindo?” – ia pirar na batatinha dez vezes, estourar o cartão e pagar excesso de bagagem na volta.

Um cantinho da feira. Tem de tudo. Até aulas de piano.

Falando sério: dá para viajar na ida com pouco volume na mala, visitar a feira e fazer um guarda roupa bem descolado lá, se quiser.

Brick Lane, outro canto da cidade, tem uma feira mais pobrinha, mas as figuras que você vê lá valem a visita. E tem uma loja de discos bem bacana, onde você pode descobrir rock alternativo sueco ou música folk techno-experimental da islândia. Chama-se Rough Trade. Não se esqueça de abrir o pacote depois de pagar e conferir se o disco é o certo ou se veio da fábrica em bom estado, mesmo nas embalagens lacradas – é, essas coisas podem acontecer lá também. Melhor descobrir e fazer a troca na hora. O conselho vale para qualquer loja de disco, alternativa ou mega. Descobrir em casa e voltar para trocar não é uma opção!

Dos pontos mais charmosos tem um “lugar chamado Notting Hill”. A tal Portobello Road tem lojas bonitas e uma feira que deve ser bem interessante, dividida em antiguidades, vestuário, comida etc. É só olhar no poste que tem uma placa dizendo em que parte da feira você está. Pena que quando chegamos ela já estava acabando. Fica para a próxima.

Portobello Market – nos postes pode-se ver em qual seção você está.

Olhar e ouvir só por prazer – deixei o começo para o fim

Nada como ouvir as badaladas do Big Ben e curtir esse belo visual

No primeiro dia, passeando no fim da tarde cheguei até o relógio que hospeda o Big Ben, talvez o sino mais famoso do mundo exatamente às 19h, a ponto de ouvi-lo tocar. Descontando o barulho do trânsito, na época em que ele foi inaugurado devia ser ouvido a distância. Deu até para abstrair um pouco e imaginar o barulho de cascos de cavalo e charretes.

De repente, você vira o pescoço e se depara com uma bela composição arquitetônica.

A cidade é cheia de surpresas para quem presta um pouco de atenção. Eu gosto de me misturar às pessoas quando viajo, ir a um supermercado, na vendinha da esquina, olhar ruas e vielas escondidas, dar um “perdido”, como se diz. Boas recompensas aguardam o visitante mais atento. Passear sem grandes objetivos é muito bom.

Na Trafalgar Square

Embora meus comentários sejam um tanto deslumbrados – quem vai pela primeira vez à Londres não tem como não sentir a energia de lá -, dos lugares que tive oportunidade de conhecer Londres foi onde eu mais me senti estranhamente à vontade desde o primeiro passo. Não precisei de tempo para me acostumar, é como se já fôssemos íntimos.

Ao longe, a Union Jack tremula sobre o Parlamento.

Ainda antes do Big Ben, neste passeio inaugural, o primeiro ponto turístico que visitei foi a Trafalgar Square e, da parte alta da praça, na cara da National Gallery, tive a visão que causou o primeiro impacto em mim pelo mundo de significados contidos na imagem e a relevância que ela teria para o meu entendimento de tudo o que falei até aqui e falarei ainda nos posts que ainda virão: a Union Jack tremulando sobre o parlamento, uma imagem austera e muito bonita cujo arrebatamento que me causou credito à luz da hora e à compreensão, dias depois, de que uma das coisas que deve ter feito a Inglaterra ser o que é hoje é a proximidade do poder com o povo. Os deputados e o primeiro ministro trabalham logo ali, ao alcance da vista e do humor de quem paga a conta.

Foi com esta imagem que a viagem deixou meus olhos marejados pela primeira vez e neste exato momento, lembrando de tudo isso, a garganta do escriba deu um nó.

Até o próximo post…

Short tales about a distant island (2)

2. Entrando pelo Tube na companhia de Harry Beck

Para ir de Heathrow até a cidade existe um trem expresso e existe o metrô.

É lógico que em minha estréia em Londres tinha que ir pelo metrô, um dos maiores ícones urbanos e de design do planeta.

Eu e Luana no trem da linha Piccadilly entre Heathrow e Russel Square

De todo o interessante sistema de transportes londrino o Underground, que fez sua identidade visual e o aviso “Mind the Gap” conhecidos e uma referência em todo o mundo, merece este post à parte.


A famosa identidade visual do metrô!

Imagine o diálogo:

– Sir, the city is becoming bigger, we need more trains for transportation.

– Oh, yes, I agree. How? There are houses and buildings around, and also trains mixed with charriots and people on the streets could be confusing and dangerous.

– No problem, Sir. Let’s bury them!

Então, em 1863 os ingleses inventaram esse negócio de enterrar trem. Primeiro pelo sistema “cut and cover”, onde os trens de tamanho convencional circulavam numa espécie de fosso recoberto num nível logo abaixo da superfície – underground -, depois literalmente cavando túneis apertados  mais profundos, para trens mais estreitos e baixos em trilhos de bitola convencional, origem do termo The Tube, que é o apelido adotado pelo atual operador, a agência Transport for London (TfL) e pelos londrinos para designar todo o sistema.

A antiga estação de Russel Square com seus azulejos Eduardianos vermelhos.

Em 1890 o sistema iniciou operações com trens elétricos e dali em diante passou a expandir-se em uma malha bem intrincada, operada no início por diversas companhias, cada uma dona de uma determinada linha.

Em 1933 o conjunto passou a fazer parte do sistema integrado de transportes de Londres, o London Passenger Transport Board. Em 1985, o governo do Reino Unido criou a empresa London Underground Limited, até que em 2003 esta empresa passou a ser controlada pela TfL.

O metrô de Londres, embora ofereça uma excelente cobertura e continue em expansão, tem lá suas “pegadinhas” e você leva um tempo para pegar o jeito e aprender a lidar com elas.

A primeira é que o melhor sistema de transportes de Londres ainda é o bom e velho pé, principalmente para quem está hospedado e se deslocando pelo centro da cidade, ou nas regiões 1 e parte da 2. Há muitas estações próximas, com escadarias enormes e fazer uma baldeação pode levar mais tempo do que a viagem em si, então é bom saber se não é melhor fazer o trajeto a pé de uma vez.

Em Russel Square, por exemplo, a ligação entre o nível da rua e o do metrô é via três grandes elevadores. Em caso de emergência, prepare as pernas...

...você desce, desce, desce...

... para um pouquinho, descansa um pouquinho...

...desce, desce, desce...

Trocar de trens no metrô pode ser uma tarefa bem loooooooooonga...

O metrô possui preços diferenciados por “regiões de abrangência” percorridas e o bilhete para uma viagem é caro (não existe almoço grátis, né? O sistema precisa se sustentar). Mas há variadas formas de pagamentos – valores diários, semanais, mensais etc – que podem reduzir substancialmente o valor pago para quem depende muito desse meio de transporte. Eu usei o cartão Oyster.

Mas e o Harry Beck do título?

Bem, esse foi o cara que fez o metrô de Londres ser um ícone do design no mundo, por uma razão tão interessante quanto o próprio pioneirismo do sistema.

Nascido em 4 de junho (Ôpa!) de 1902, Henry Charles Beck, desenhista técnico que trabalhava no escritório de sinalização do metrô, desenvolveu em 1931 o conceito do atual mapa do Underground, que em pesquisa realizada em 2006 entre os telespectadores de um programa da BBC2 e frequentadores do Museu de Design de Londres, foi eleito o segundo produto preferido do design britânico, só perdendo para o avião Concorde.

E qual foi a sacada? A idéia brilhante (e ao mesmo tempo a segunda grande pegadinha do metrô, coisa de inglês mesmo) de fazer um mapa considerando a topologia das linhas e estações, e não a sua exata distribuição geográfica.

As rotas são representadas por linhas que seguem apenas orientação na vertical, na horizontal ou em 45 graus, e as estações estão dispostas de maneira mais ou menos eqüidistantes – olha outra pegadinha aí para os afobadinhos…

O mapa atual, segundo os conceitos de Harry Beck. As áreas em cinza e branco no fundo delimitam as zonas de tarifas diferenciadas. Um detalhe: as barras para apoio no teto dos trens possuem a cor da linha. Veja no mapa a linha Piccaddilly e compare com a primeira foto deste post. Clique na figura para ver o mapa ampliado.

Algumas pessoas sustentam que Beck se inspirou no modelo de representação esquemática de circuitos eletro-eletrônicos, mas sendo verdade ou não, isso não tem a menor importância.

Beck sacou que para o usuário médio, que está debaixo do chão e com pressa, não interessa saber se o ponto A e o B estão onde e a que distância um do outro, mas apenas qual(is) linha(s) deve usar para ir de um a outro.

O sistema de representação foi copiado em várias partes do mundo e hoje o mapa do metrô londrino estampa vários souvenires franqueados pela operadora, desde toalhas de chá até calcinhas! Aliás, uma calcinha ilustrada com o mapa do “Tube” é trocadilho típico do às vezes estranho senso de humor britânico.

Em 1947, Beck passou a lecionar tipografia e design de cores no London School of Printing and Kindred Trades, já fora da London Transport. Só receberia o devido reconhecimento pela importância de seu legado nos anos 90, com a criação de uma galeria com seu nome no London Transport Museum. Uma placa comemorativa foi colocada na estação de Finchley Central, na região onde ele morava. Desde 2001, a TfL credita a Harry Beck a invenção do mapa do metrô.

Harry Beck, o cara!

O próximo sábado, 18 de setembro de 2010, será o trigésimo sexto aniversário da morte de Harry Beck.

E como as coisas na inglaterra não se cansam de ser esquisitas (ou excêntricas, se preferir), veja neste link uma das  incríveis esquisitices que o mapa do metrô pode inspirar: achar desenhos de bichinhos ligando trechos de determinadas linhas! Sacada de Paul Middlewick, que em 1988 viu um elefante enquanto consultava o mapa.

Realmente, olhar os detalhes de Londres com lupa e depois tudo junto misturado é muito divertido.

Just Miiiind the Gap!

Continua…

Para saber mais, veja os links de referência abaixo:

London Underground

TfL & TfL oficial

Tube Map

Mind the Gap

Harry Beck

O metrô na cultura pop

Da baia com carinho (1)

Era o dia da recepção… Ele coçava a barba, dava um sorriso de canto e começava a falar ao novato: – Passaste no teste! Acertaste mais do que erraste. – enquanto isso, os já calejados, pensávamos “Do que os novatos riem? Condenaram-se, pelo menos, pelos próximos trinta anos”. – e então ele continuava a falar:  – Pois saiba que, aqui em meu reino, eu só preciso de cinco anos…

Naquelas celas de insignificância, transmutadas em sublimes moradias, ou último refúgio, se for de melhor gosto, éramos nós – os orgulhosos “recursos mais importantes” daquela grande Casa, segundo a tradição oral nos ensinava – os escolhidos para quem, de quando em vez, grandes líderes permitiam-se realizar toda a sua transparente e inodora onipotência… Era a vitória, enfim, da coisa sobre o homem. Durante os anos de servidã… quer dizer, a serviço daquela grande Ca(u)sa, vastidões de minh’alma foram preenchidas com O conhecimento. Aqule era o óleo de nossos lampiões. Óleo sagrado!

Cada ano naquele quadrado dividia-se em duas grandes e nobres tarefas compartilhadas com afinco e denodo por todos os obreiros, cada qual ombreado consigo mesmo naquele estranho mosaico – colher e plantar, sem perguntar. No primeiro semestre, fazia-se o que havia sido arduamente acordado no ano anterior: cumprir à risca a profecia de que nada, absolutamente nada haveria de se realizar conforme o planejado, QUANDO SE realizava, é bom que se diga… Já no semestre seguinte, elevados ao Olimpo da esperança sagaz, lá estávamos nós a planejar o próximo ano. Quando chegava dezembro, reunidos, celebrávamos em algum salão esquecido nossa própria incompetência, refazendo uns aos outros juras de amor eterno com uma sinceridade tocante. Dançávamos uma bela ciranda, infinita e profética… E lá íamos nós, começar tudo de novo.

A rotina laboral era eivada de exemplos de ajuda, comoventes e diários, entre aqueles entes atados a seus quadrados, prova inequívoca de um amor fraternal, transcendendo a vida e a morte: todos irmãos, por uma só irmandade, trabalhando na solidão, a tal “solidariedade”.

“Fazer, desfazer, refazer… Só os impuros reclamam. O silêncio molda o bom servo, repitam. Cegos de ignorância – malditos sejam, vermes preguiçosos! – não enxergam a lapidação, dia após dia, de suas pobres almas por nós, que em favor sublime, concedemos esta ímpar oportunidade de fazê-los um pouco melhores – nunca como nós, é verdade? Pois em nossa virtuosa condição de bafejados pela boa sorte, ungidos pelo dedo firme da divindade da vez, dá-nos gozo contemplar, até a undécima hora, o novelo gestado em suas mentes insignificantes por simples ordens cambiantes. Tolos! À décima segunda hora, quando enfim o suor e a fadiga tomam conta de vós, obreiros malditos, já estamos em nossos lares desejando-lhes sorte. Adorai-nos, adorai-nos. Só a bajulação liberta!”

“Quem de vós há de discordar de mim? Aqui estou eu, perfeito e pronto! Sou todo para vós, meus servos. Apreciem minha sabedoria – é um milagre! É um milagre! Nesta Casa basta estar, até inadvertidamente, reconheço, diante da ponta do dedo certo, e eis que opera-se o milagre. Apontado entre muitos, ao ser indicado por aquela luz, tornei-me o cônscio de toda a sabedoria, que nem mesmo sabia eu possuir, mas o que isso importa agora? Eu tenho A PALAVRA. Minha caneta é grande!”

“Como assim, recompensá-los? Como assim reconhecê-los? Vejam, fizeram 100 porcento. Mas deviam ter me dado 120! Desumano? Como ousam acusar? Não há seres humanos aqui, imbecis. Quantas vezes devo lembrá-los? Mas não é esse o motivo, impuros. Não é. Vejam: até fizeram muito bem o que mandamos… É verdade! Todos os anos o fazem. Mas sem um sorriso? Como poderei mostrar aos meus pares meu poder e glória, se meus servos não demonstram motivação? Às favas com os resultados, dane-se o mérito! Eu quero motivação!  Entenderam? MO-TI-VA-ÇÃO! Ademais, por que se preocupam, bastardos? O tempo se encarregará de empurrá-los escada acima, de qualquer maneira. Está escrito!”

“Percebam, pequenos, que nesta Casa apenas nós, os líderes, somos moldados à imagem e semelhança do precioso óleo redentor. Eternos, sobrevivemos ao tempo e somos imunes às intempéries. Nem o dilúvio nos abaterá: andamos sobre a água e caímos para cima, pois de tão perfeitos, flutuamos! Quem há de ser contra nós?”

Lição de brinquedo

Lição de brinquedo

Um de meus primeiros brinquedos

Um dos meus primeiros brinquedos

Quando o vi,
guardado ao pó,
revirei minha cabeça,
Para tentar uma lembrança…
Umazinha que fosse, só!

Porque sempre que eu o via,
me emocionava saber,
apenas saber, que ele sentira
o que juntos vivemos um dia.

Mas eu… Oras, eu de nada lembrava!

Como posso ter saudades
de um momento, numa história,
que insiste em me lembrar,
justo que dele não há memória?

Desisti de entender.
Melhor só contemplar,
à distância de outros tempos,
dos quais ele teimava em falar.

Acredito que lá estive,
e em todas as suas maravilhosas lembranças…
Justo aquelas que não mantive.

Assim decidi então:
– Serei para sempre seu cúmplice,
porque também fiz eu um dia
para alguém a quem queria
lembranças que nunca existirão.

Findo o conto, na memória…
De um brinquedo velho aprendi
que o amor dado a um filho,
com presente, ou com carinho,
é só o início de outra história.

P.S.: com um agradecimento à amiga Ana Paula Vilhena pelos bate-papos muito doidos no facebook, um dos quais inspirou o poeminha acima.