O penúltimo episódio… parte A.
Como assim, parte A?
É, o post ficaria imeeeeenso… Se as sagas Crepúsculo e Harry Potter puderam dividir um capítulo em dois filmes, por que eu não poderia?
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4 – A. Os colecionadores…
Fazer turismo pode resultar em dois tipos de experiência: diversão e aprendizado. Até aqui, abordei os dois aspectos no lado mais ligado à vida cotidiana de Londres. Mas há outro tipo de atração na qual os ingleses, principalmente devido à influência da era Vitoriana e um certo senso de preservação, se tornaram mestres: museus e coleções.
Antes de prosseguir, uma pequena digressão:
Os ingleses fizeram muita besteira também, ao longo de sua história, como qualquer país ou qualquer pessoa sempre fez e sempre fará. Ninguém está imune a esta possibilidade. Mas o calejamento do tempo e as escolhas que são feitas a partir da percepção destes erros moldam o caminho a ser trilhado em direção ao futuro. Para o bem e para o mal, como vocês lerão mais adiante.
Na minha opinião, a percepção e o julgamento sobre os atores, os atos e os fatos que moldaram um dado momento histórico dependem de diversas variáveis inerentes ao contexto sócio-cultural da época em que se dá o fato e/ou a análise do mesmo, ou seja, as inferências podem ser bem diferentes para aqueles que viveram o tal momento e para os que em outro instante o analisam.
Meu olhar sobre a História, reconhecido e respeitado o limite da minha humilde e eterna ignorância, tenta primeiro observar e absorver o “conjunto da obra”, digamos assim, se aquilo foi ou não positivo – do meu ponto de vista – para depois descer até os detalhes que compuseram o todo e, onde puder alcançá-los, buscar ali as respostas que confirmem ou neguem minhas impressões. Há ainda certos valores que considero universais contra os quais costumo confrontar as minhas percepções, mas isto já é assunto para outras conversas…
Isto tudo foi escrito para que o leitor, antes de me acusar de ignorar, a partir daqui, que os ingleses “saquearam, exploraram, subjugaram etc etc” e mais toda aquela retórica politicamente correta de professor secundarista marxista, atente para o fato de que nada disso me impede de reconhecer que os caras fizeram uma nação formidável, a despeito de todos os erros no percurso. Nação que infelizmente parece caminhar para a destruição “lenta, gradual e segura”, por submissão. Que Alá os proteja…(veja aqui e aqui)
Se eu pensasse de outra forma, talvez devesse achar a Alemanha um país desprezível e seus habitantes seres abjetos por conta das lambanças decorrentes de um delírio batizado de Nacional Socialismo, comandado por Hitler décadas atrás. Compreendo porque os alemães se deixaram levar por tamanha sandice à época, assim como compreendo porque vários países e pessoas – inclusive vários ingleses graúdos e um certo Getúlio Vargas – chegaram a flertar com o regime.
Saúdo todos aqueles que, desde lá até os dias de hoje, enxergaram a merda que era aquilo tudo e dispuseram-se ao combate, colocando aquela loucura devidamente no lixo da História, sem no entanto permitir que o mundo jamais esqueça o que aconteceu.
Tomara que eu ainda esteja vivo para poder comemorar o mesmo em relação à bosta idealizada por Karl Marx, que desde 1917 já matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo….
– Fim da digressão.
Visitando estas atrações da city, um conceito único parece permear todos os palácios e museus e eu o descreveria numa frase mais ou menos assim: “O ministério da saúde (mental) adverte: colecionar e conservar enriquece a cultura”.
De fato, a maneira anglo-saxônica de olhar o passado e fazer negócios é o solo fértil que permitiu o florescimento da idéia onde história, arte e cultura devem ser bens acessíveis a todos e um valor universal. A História prova que isto faz toda a diferença. Olhem o conjunto das nações que lideram o IDH e procurem se informar sobre o alcance da educação e o respeito à História nesses lugares, de uma forma geral. Já escrevi um pouco sobre isso.
Durante o período Vitoriano o “Império onde o sol nunca se punha” experimentou seu auge. Felizmente, ficou intacto o legado dos exploradores (por favor, aqui no sentido científico, não “marxista”, da palavra), cientistas e aventureiros, graças ao apoio – e já em certo grau, cobrança – de um povo de visão e seus expoentes, fossem eles estudiosos, empresários, financistas, políticos ou monarcas, como exemplificarei mais adiante.
Em minha curta estadia visitei o que deu nesse campo: O British Museum, o Victoria and Albert Museum, a National Gallery, o museu de História Natural, a Igreja dos Templários, a Torre de Londres e o palácio de Hampton Court. Neste capítulo falo um pouco dos que mais me impressionaram.
Durante a edição destes posts, várias vezes senti um arrepio, ao lembrar que nas visitas fui tomado por diversas sensações, desde a simples contemplação despretensiosa até emoção pura. Calejados que são nesse negócio de catalogar e mostrar coisas, os caras criam atmosferas, novas dimensões e fazem o que querem e o que talvez nem imaginem com as emoções do visitante. É muito fácil embarcar nessas “viagens” e impossível sair delas incólume. E o humilde escriba aqui ainda se permitiu enxergar algumas outras “cositas” lá e acolá…
Agora, vou deixar que as imagens me ajudem a contar o resto da história.
O primeiro lugar que fomos visitar, até porque era do outro lado da rua, foi o British Museum. A imponência da fachada era o prenúncio de que a visita poderia ser longa, mas só entrando deu para sentir o drama!
The British Museum: A primeira p*rrada na cara
De acordo com o site oficial, Hans Sloane (1660 -1753) foi um médico, naturalista e colecionador que ao longo de sua vida amealhou uma coleção de 71.000 objetos, desde moedas até amostras de animais e plantas. Desejava manter a coleção intacta após a sua morte, então entregou-a ao Rei George II e para a nação, como contrapartida a um pagamento de vinte mil libras para seus herdeiros.
O presente foi aceito e o parlamento criou o museu em 7 de junho de 1753.
Ao longo do tempo, o museu destinou parte de sua coleção para dar origem a outros – como o Natural History – e focou seu acervo em História, essa com “H” maiúsculo mesmo!
Logo ao entrar, vê-se o pátio central – The Queen Elisabeth II Great Court -, que é coberto por uma espécie de redoma moderna translúcida (diz ainda o site oficial que é o maior espaço público coberto na Europa, com dois acres), muito iluminado e bastante convidativo para um descanso – já ao cruzar o portão você percebe que vai precisar de um em algum momento -, ou um lanchinho, ou uma leitura, ou só sentar e ficar olhando…
Como na cidade em geral, você se sente bem à vontade em qualquer atração que vá visitar, mas um aspecto é bem diferente do aconchego das ruas entre os vários edifícios de tijolinhos e parques: o que a cidade ainda guarda de bucólico fora dos museus vira over, mega e quase opressor uma vez dentro deles. É tudo uma questão de escala – Veja o Totem da foto, exposto no pátio central…
No British, uma visita completa só será possível ao cabo de algumas semanas.Então é melhor relaxar, ver e curtir o que puder. Depois, torcer e fazer planos para voltar de novo e de novo…
A visita é puro deleite visual, você tem a impressão de que os livros de história da escola estão pulando em cima de você. Sensação como esta, só no Louvre, em Paris, ou diante do Coliseu de Roma.
Não há foto que descreva o que é ficar frente a frente com a História do mundo, imaginar as figuras históricas que podem ter pisado em tais lugares, usado os objetos expostos. O que faziam? O que diziam? Para quem gosta, é certo que em algum momento um aperto no coração fará saltar uma lágrima em homenagem ao riquíssimo legado deixado pelo ser humano nos quatro cantos do mundo.
A experiência de uma visita assim também aguça a nossa curiosidade. Você começa a querer saber mais, ver mais. E descobre coisas curiosas, como quando estava na seção dedicada ao Parthenon grego.
Tava lá bonitinho, já convertido em mesquita pelo Império Turco Otomano no século XV, quando este inventou fazer dele também um paiol. Um belo dia, em 26 setembro de 1687, durante um conflito com os Venezianos, o paiol BUM! E era uma vez uma bela edificação. Então Thomas Bruce, conde de Elgin, em 1806, com a permi$$ão dos Turcos (!!!), só teve o trabalho de levar alguns “cacos” para a Inglaterra. Hoje eles estão expostos no British Museum como os Mármores de Elgin e os gregos reclamam a volta das peças para a Grécia. Briga boa… A história dos mármores de Elgin é para lá de controversa e reúne uma sucessão de cagadas, até da equipe de manutenção do Museu Britânico!
Brigas à parte, em contraste com a história da aquisição dos mármores por Sir Elgin, a sala dedicada a abrigar os restos do Parthenon tem uma origem interessante:
Esse é um daqueles “pequenos” detalhes que imediatamente me fizeram lembrar lá mesmo, bem na hora em que li as palavras na parede, de um certo “causo” que ilustra as “pequenas” diferenças entre a estreiteza e a amplitude da visão de uns e de outros. Aqui e lá, respectivamente.
Assim, encerro este post com um link para o que se passou recentemente na faculdade de direito da USP. Leia e compare.
Até a próxima!