O Sapato…

O Sapato e a Lâmina da Faca

Naquele dia ensolarado que anoitecia chuvoso, andando no chão seco corria um velho adolescente. Ele precisava chegar rápido, atrasado em sua casa que não tinha.

Ficou chorando, rindo, olhando sem ver para o céu sob seus sapatos. Eram trinta e dois de fevereiro, vinte e cinco horas e sessenta e um minutos.

Pegou a lâmina da faca e ficou se olhando. Sem refletir, pensou porque o mundo queria não querer aquele pobre sujeito que foi bem recebido a tiros pelos homens, bichos. Todos os ninguéns mandavam-no embora chamando-o para perto. Qual nunca seria então a razão humana de sua existência sem ser?

Tirou os sapatos que não calçava e saiu correndo, fixo, ao mato sem plantas. Foi quando nunca uma voz o chamou sem som. A voz cresceu – virou dez, virou mil… Estavam em desespero tranqüilo.

E o sujeito que não era, assustado, branco, bateu asas e se foi. Quem sabe para onde?

Talvez ele volte sem vir, quem sabe dia trinta e três, no ano passado?

__________

Giorgio Seixas

Colégio GIMK – Grupo Integrado Magdalena Khan
Rio de Janeiro, 23/08/1990