O “comichão” da verdade

Atenção, senhores historiadores, pesquisadores (profissionais e amadores) e demais interessados! Parem de ler, parem de consultar, parem de escrever! Sete luminares, indicados pela primeira e única mulher presidenta – aliás a mulher presidenta mais inteligente e articulada que o Brasil já teve até hoje – nos pouparão todo o esforço de leitura e raciocínio e em dois anos nos entregarão uma história oficial novinha para chamarmos de nossa…

Em toda esta história (sem trocadilho), onde não faltam certezas aos interessados (e não são poucos), eu sigo na minha busca pessoal pela Verdade fazendo perguntas, quem sabe assim dando chance para ilustrar a minha humilde ignorância:

1. Sete luminares “Federais” farão melhor trabalho do que todas as universidades, todos os grupos de pesquisa, todos os estudantes, todos os curiosos fizeram até então? Aí, por dedução lógica simples, uma vez concluídos os trabalhos oficiais, estarão todos estes entes que citei dispensados de continuar os seus? Revogam-se a partir daí todas as disposições em contrário?

2. Sem entrar no mérito das decisões tomadas por outra comissão, aquela da Anistia, que equiparou a luta armada, a desarmada, a não-luta e a simples covardia a um investimento, estaremos testemunhando o duplo emprego de verbas para uma mesma finalidade? Ou: para que a Comissão de Anistia tomasse suas decisões, algum tipo de pesquisa histórica deve ter sido feita para cada caso analisado. Então se fará toda a pesquisa de novo? Será que alguma pensão companheira corre o risco de ser revista? A Comissão de Anistia foi só um pré-teste, como esse do ENEM 2011, e “vazou” umas “verdades” antes da nova comissão existir? A Comissão da Verdade vai apresentar uma verdade mais verdadeira? O que fazer então? Pedimos na justiça a anulação de uma, de ambas, das pensões pagas com a imediata devolução do dinheiro?

3. Por que apenas escancarar toda a documentação arquivada existente ao alcance de todas as esferas da administração pública (um pedacinho daquilo que se chama História) para o distinto público, ou seja, eu, você e gente, tipo assim, historiadores, jornalistas, pesquisadores, estudantes e curiosos – não é suficiente? Ainda não estamos prontos para tanto a ponto de precisar de intermediários com carimbo federal?

4. Frente ao caminhão de dinheiro que a criação, manutenção e operação deste novo órgão público custará, questionar suas conclusões – fato corriqueiro dentro de qualquer círculo acadêmico de conhecimento, das ciências exatas às humanas – será ato de lastimável falta de civilidade patriótica? Ou, traduzindo o viés da pergunta: um investimento de recursos materiais e humanos “oficial” para produzir fora dos citados círculos acadêmicos um documento que por sua natureza lógica já nasce com prazo de validade vencido é necessário?

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Até a aprovação final da instalação da dita Comissão da Verdade pelo Senado Federal, o estudo de registros, documentos e outras reminiscências do passado tinha a História como meta. Agora, inauguramos no Brasil o estudo de História com metas a atingir!

É tanto comichão para mostrar a “verdade”,  que decidiu-se pagar comissão em troca de uma.

Nossos pretéritos acabam de garantir um novo futuro. São ou não são mais-que-perfeitos?