Alô, Dimenstein: eles também acham que a função do jornalista é educar seus leitores.

Como o Reinaldo Azevedo apontou em seu blog (aqui e aqui) Roberto Dimenstein produziu dois textos para dizer o mínimo sofríveis a respeito da doença de Lula e seus desdobramentos na imprensa e opinião pública. (Aqui o primeiro texto) No segundo texto, Dimenstein chega ao fim com esta pérola:

“Isso significa quem um dos nossos papéis como jornalistas é educar os e-leitores a se comportar com um mínimo de decência.”

Então, para falar em um terreno, ele entrou em outro bem mais pantanoso: em minha humilde opinião, imprensa para “educar o povo” é coisa típica de totalitarismos. Todos os caras que acreditaram ou acreditam que a função do jornalista é “educar seus leitores”, invariavelmente tinham ou têm um ou até todos estes traços em comum: egolatria, fetiche com bigodes e barbas exóticos, fardas/ternos bem cortados, discursos inflamados e longos e a certeza de que sabem qual é o “caminho certo” que o mundo e a história devem seguir. Os mais “modernos(!)” vez por outra até usam agasalhos esportivos…

Pessoalmente, gosto quando os jornalistas têm opinião firme, sem vergonha de expô-la, desde que se limitem a manifestá-la a reboque dos fatos que informam, e não o contrário, segundo suas (e de outros) conveniências ou motivações, digamos, “pedagógicas”. Jornalistas só atribuem tamanha “missão” à sua classe nas seguintes hipóteses: burrice, delírio egóico ou desvio de caráter.

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2 Comentários

  1. Fernando Carlos Farah

     /  9 de novembro de 2011

    Giorgio… sem querer entrar no merito de sua argumentacao, mas tomando em paralelo um raciocinio que venho estudando e desenvolvendo nos ultimos anos, tem-se a questao: o que sao fatos? da onde surgem? Numeros, estatisticas, eventos? Para selecionar fatos pertinentes, um jornalista so pode usar uma arma – a intuicao – ou, como se diz no jargao, o faro de noticia. Ora, a civilizacao ocidental comeca apenas agora a dar bola para a intuicao, menosprezando-a muitas vezes ao caracteriza-la como feminina. A intuicao e’ nosso radar invisivel, aquele que orienta nossos passos na rua, que determina em ultima instancia nossas escolhas. Tem algo de afetivo na intuicao, algo de mistico, eu diria. Sem intuicao seriamos nada nadando em nada. Nao seriamos capazes de distinguir uma coisa da outra. Seriamos figuras invisiveis num quadro invisivel. Eis o no’ gordio da questao. A criacao a arte, o pensamento filosofico, tudo nasce dai tambem. A grande obra que se avizinha a nos, seres da Nova Era e’ a de reestruturar noss universo apreensivel de acordo com este ponto de vista. Libertemo-nos da Verdade, dos preconceitos, dos dogmas, das predisposicoes, dos intelectualismos, das racionalidades obtusas que nao seriam ferramentas para esta intuicao afetiva. Libertemo-nos do jugo da hipocrisia, nos, fortes o bastante para isto (somos?), das regras pachorrentas de etiqueta, do moralismo cambaliante de mumias de um tempo obscuro. Nietzshe apontava para isto. E tambem o nazi-fascismo… Havera uma terceira via? Uma invencao brasileira, quem sabe? Somos, sem duvida, o povo do novo milenio, mas como conviver com as outras nacoes tao mais fortes finaceira e belicamente? Teriam elas humildade o bastante para se submeter a nos e, uma vez submissas, humildade para aprender? Nos, teremos capacidade de liderar mudancas no planeta? Uma que priorize o intuitivo e o afetivo, que de voz ao aparelho pre-cognitivo, a aura de nossos sentidos, em detrimento da inventada racionalidade? Sera a razao tao entranhada em nossa lingua e cultura que nao possamos enxota-la de modo a oferecer `as geracoes futuras uma sociedade mais organizada, eficiente e honestas? Estas sao questoes que, acredito eu, deveriam estar em discussao desde ja’ nos horizontes de um novo mundo.

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    • Oi, amigo.
      Infelizmente, há coisas citadas aí no seu comentário das quais é impossivel eu me desprender e outras às quais é impossível eu me associar ou me considerar parte.
      Concordo plenamente com você quanto à possibilidade do uso da intuição, ou “faro” jornalístico para selecionar e arbitrar (as pessoas são diferentes) o que consideram fatos ou não. Entretanto, dentre os valores que governam minha vida estão a busca da verdade – dentro e fora do âmbito religioso – e a defesa do indivíduo e do que posso chamar de “direito natural”, da forma como está definido na fundação da forma republicana dos EUA – vida, liberdade, busca da felicidade.
      Assim, ainda segundo meu ponto de vista, todas as tentativas de diluir a individualidade, em qualquer circunstância e sob qualquer nomenclatura, num processo de “coletivização” – ismos, Nova Era, mundo melhor, futuro da humanidade etc -, constituem uma agressão violentíssima a todos os meus princípios, com agravante na sua forma “papel de educar”.
      Existe, ligando todos os valores que citei antes – verdade, liberdade, mais honestidade, respeito, caráter – uma coisa da qual ninguém, em qualquer situação, pode prescindir, sob pena de cometer desde pequenas e inofensivas gafes até colocar em risco a vida de populações inteiras: a lógica. A intuição, pra mim, nada mais é do que um bem treinado processo de respostas a um dado estímulo, influenciado por tudo o que aprendemos até aquele momento – em suma, uma resposta mais rápida do que a média. Pode ser treinada. Porém, a intuição também deve (ou deveria) prestar contas à lógica.
      A mesma lógica que me fez escrever a respeito dos textos do Dimenstein.
      Pura intuição.
      Um forte abraço,
      Giorgio

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